Não procuro nada além
de simples relações, um
pouco de prazer e carinho; alguém para ouvir e que seja
bom ouvinte.
Alguém
para beijar, sorrir...
ELEVADOR
DÁ PÂNICO EM UNS, EXCITA OUTROS. E produz histórias. Muitas. Quem não conhece
ao menos uma? Desde as engraçadas, como as exibidas na TV, em comercial ou não,
como aquela em que dois homens, gaiatos, conversam num elevador lotado sobre fictícia
doença infectocontagiosa de um deles, sob esgares e olhares medrosos dos outros
passageiros e, claro, escárnio dos dois; até notícias trágicas que contam sobre
elevador que despencou indo até o poço e matando todos os ocupantes, ou sobre
aquele homem que abriu a porta e, inadvertidamente, embarcou num elevador que não
estava ali e... morreu. Foram, aliás, acontecimentos como este último que
geraram aquele abominável adesivo obrigatório que diz: ... “verifique se o
mesmo...”.
Tenho
cá minhas relações com elevador, às vezes ressabiadas, quando se trata daqueles
em prédios velhos do centro da cidade. Aqueles com portas pantográficas. E às
vezes bem amistosas, como com aqueles em prédios modernos, decorados com
espelhos enormes que nos facilitam ajeitar o cabelo, limpar os olhos, puxar um
fiapo do dente...
Moro
num 11º andar, então elevador faz parte de minha rotina. Semanas atrás,
chegando a casa mais cedo, 8h da noite, encontrei minha vizinha porta-com-porta
na garagem, e juntos embarcamos.
Mulher
de uns 40 anos, simpática, charmosa, um mulherão. Cheia de saltos, bolsas,
pulseiras e colares, claro que tudo em perfeita harmonia. E mais! Conversa em
português escorreito, fala de si, interessa-se pelo interlocutor, olha nos
olhos... Meu irmão diz que ela dá de dez nas duas filhas; por sinal, duas
gatas.
Íamos
a conversar sobre os trâmites de seu divórcio. Sim, divorciada, de um cabra
velho, chato e, dizem, louco por quenga. Então um tranco e o elevador parou no
7º andar. Não subia, não descia, não abria a porta. O interfone não funcionava.
Só faltava a luz apagar...
Não
sou homem de entrar em pânico. Nem minha charmosa vizinha o era. Olhamo-nos e
foi como se nos disséssemos easy going! Toc,
toc, toc, alguém do lado de fora perguntava se havia alguém preso. Era um
morador do 7º, deu-nos umas dicas que fariam a porta abrir. Debalde. - Calma
aí, disse-nos, o porteiro vai vir com a chave. Veio o porteiro com a chave,
choc, choc, choc e... nada! Teríamos que aguardar a vinda de um técnico. Sugeri
então a minha bela vizinha: vamos sentar e aguardar. Dei um jeito de abrir uma
fresta na porta para que entrasse algum ar. Ela ligou para as filhas. No máximo
em meia-hora seríamos libertados. Mas não foi bem assim...
A
cena era impactante. Nós dois sentados no chão do elevador. Não éramos como
dois sacos de batatas. Estávamos os dois bem vestidos; mochila, bolsa, chaves,
saltos altos, botas, capacete a decorar o chão do ambiente.
E
nos pusemos a conversar. Conversar por delicadeza quando não se quer falar e
não se tem sobre o que falar é uma maldição, pois não? Felizmente não foi esse
o caso. Eu estimulava e ela se punha a contar... contou-me do cachorro do
ex-marido, das filhas, falou da loja de moda feminina que mantém no bairro, das
dificuldades financeiras... eu falei daquilo que me era mais presente:
Brasília, cidade onde ela, aliás, morou por anos. Foi agradável ter com quem
trocar as felizes impressões que a cidade me deixara. Contou-me mais...
contou-me do gostosão do prédio, verdadeiro deus, casado, que lhe deixara cantada
por escrito sob sua porta. Devidamente esnobado.
Já
conversávamos havia uma hora quando o subsíndico, o cabra mais simpático do
prédio, libertou-nos. E nem acreditou ao ver saírem lá de dentro aqueles dois
tão sorridentes, como saídos de um coquetel.
Oswaldo Lucas-Jr olucasjunior@gmail.com 13
de setembro de 2012