A
vida era difícil no sertão, eu morava com meus avós, vovô Venâncio e vovó
Jucema, na época, eles já eram bem velhinhos, e mais dois tios, tio Bento e tio
Roberto. Mainha morreu quando eu nasci, a parteira não havia conseguido conter
o sangramento. Painho saiu de casa a pretexto de ir roçar a terra bem cedo (eu
tinha uns 5 anos, num lembro direito). Nunca mais voltou. Minha via crucis
começou logo após o sumiço dele, meus tios ficaram indignados com aquilo, na
época eu nem entendia nada e essa raiva que sentiam de meu pai acabou sendo
transferida para mim. Eu era maltratado, xingado e, como em um jogo, começaram
a brincar com meu corpo como se eu fosse uma mulher. Falavam no meu ouvido
coisas que eu até pouco tempo não entendia.
Tio Roberto era o mais bruto dos dois,
tinha quase 1,80m de altura e era muito forte; ele mal sabia escrever seu nome,
mas era bem disposto para o trabalho. À noite, sem que meus avós percebessem,
ele entrava sorrateiramente no meu quarto, sentava na cama, alisava meus
cabelos e corria a mão pelo meu corpo. Apavorado, eu tentava gritar, mas era
impedido; tapando-me a boca, ele me ameaçava, dizendo que se eu contasse para
seus pais (meus avós) ele me mataria ou, até pior, mataria vovó e vovô. Eu
tremia de medo, isso me deixava abatido e sem alegria; eu chegava da escola e
mal falava com meus amigos, tinha medo de tudo e de todos.
Tio
Bento era menos bruto, um pouco mais baixo e magro, tinha mau hálito devido ao
fumo; esse me tratava com carinho, parecia até gostar de mim, mesmo assim, minha vida não era das
melhores. Parecia que combinavam as sessões de sevícia, dia sim outro não eu
era tocado e estimulado no sexo.
Meus cinco anos de idade não permitiam
que eles fossem mais longe, apenas os toques e beijos. Ainda criança, eu não
entendia o porquê de tudo aquilo. Não lembro o dia em que tudo aquilo começou,
mas lembro perfeitamente como tudo isso acabou.
Os anos passaram e meu corpo foi
mudando, chegou a puberdade. Duas semanas antes de eu completar 13 anos, meus
avós morrem em um acidente com a carroça; os cavalos se assustaram com uma
cobra e minha esperança de uma vida melhor se foi com o vento. No enterro, vi
nos olhos de meus tios um ar de desejo jamais visto, e foi naquele momento que
temi pela minha vida, eles já não tinham mais nada a perder. Eu não tinha meus
pais, meus avós e nem ao menos poderia chamar aqueles caras de parentes. Pensei
em fugir... e decidi, naquele momento, partir para bem longe; eu sabia que
teria que ser rápido, pois meu “fim” estava próximo... chegamos do enterro e
fui direto para o quarto. Disse que estava cansado e que no dia seguinte eu
tinha escola e depois teria que ir para a roça. Eles apenas balançaram a
cabeça, concordando.
Entrei
no quarto, separei duas mudas de roupa e esperei a noite cair. O silêncio era
total, pedi a Deus para tudo dar certo. O que se seguiu, mal consigo
descrever... tio Roberto foi o primeiro a entrar, segurou-me pelos braços,
apertou-me, lambeu meu peito. Eu gritei, chorei; tio Bento entrou e, pensei:
serei salvo! Que nada! Os dois tinham os olhos vermelhos e senti o cheiro
amargo da pinga que vovó guardava embaixo da pia de lavar pratos. Eles rasgaram
minha roupa e me possuíram ali mesmo. Gritei! Mordi!. Tentei empurrá-los, mas a
força deles era muito superior, minha inocência estava sendo jogada na lama
como se eu fosse um dos porcos que eu mesmo alimentava todos os dias. Eles me
lambuzaram o corpo e a alma. De dor, adormeci!
Ao acordar, vi os dois ao meu lado, sem
roupa, inconscientes e inocentes; com esforço, eu me levantei, vesti a cueca,
vi que havia manchas de sangue na cama; senti meu corpo rasgado. Ódio e
desespero passaram pela minha mente, eu não queria passar por aquilo novamente.
Nem hesitei, fui até a cozinha, peguei o machado que eu usava para cortar lenha
e, com duas machadadas, EU ME
LIBERTEI. E PARTI.
Denilson André
29 de junho de 2012