De nosso amor e loucura...

Alguns de nós, eu inclusive, já vimos acalentando a ideia de criar este blog. Fazemos, de certo, parte de um grupo que não se entende como apenas professor, pessoas que criam contos, crônicas, novelas e têm receios de expor suas produções. Somos loucos... loucos pelo ócio mais trabalhoso que existe: escrever Utilizamos as palavras de Clarice Lispector para definir nossa loucura... "Escrevemos porque somos desesperados e estamos cansados, não suportamos mais a rotina de nos ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, nós nos morreríamos simbolicamente todos os dias."

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Chorava, chorei, choro



Chorava e não se aguentava nos cueiros. Diziam de mim desde o dia em que nasci. Não sabiam é que havia dor aqui dentro. Na boca que ardia nas coisas e pensava que o mundo fosse isso. Na barra das calças curtas aos dez anos. Nas mãos que, nervosas, labutaram entre as pernas na adolescência mal apanhada. Nas barreiras invisíveis construídas para fingir não querer o que mais se deseja. Como pode uma dor durar tanto? Abafada pelo sorriso embasbacado diante da juventude com que me deparo todos os dias, essa dor, em frêmito de gozo, que não pude compreender a tempo, não pude viver a tempo, não pude sanar a tempo, que já não sei se poderá ter alívio e que, presa, esvai-se na secura dos olhos, transborda nas palavras que me sinto obrigado a dizer para esses meninos que enxergam em mim uma moldura. Chorava e não me aguentava nos cueiros. Não sou exemplo para ninguém. Sou, isto sim, um anti-modelo. Sou aquilo do que vocês devem fugir. Sou os gestos que precisam evitar. O caminho mais longo a ser contornado. Cresci, mas amadurecer é um calvário impossível de chegar ao fim. Cresci e a dor continua aqui por dentro. Mesmo gozando em semblantes alheios. A dor está cá comigo. Ainda que virando as costas como quem cede a um rogo. A dor persiste por dentro. Voltando-me para atacar com o sexo em riste. A dor lateja mais do que nunca. Apesar de ter me desfeito em espasmos os mais belos. Não me abandona aquela dor. Assim foi que tive que dizer para aqueles que me invadiam por onde eu mais temia e mais sonhava. Chorei e não me aguentei nos cueiros. Há remédio para isso? Algum Alívio? Até hoje as narrativas com que entreteço minha tristeza. Pura ficção. Os braços musculosos do abraço. O odor equino das axilas. Delírio apenas. O vagar em cada escuro recôndito de um corpo. Maléfica imaginação. A compaixão tornada lascívia. A ofensa tornada tesão. Não há em mim uma cicatriz sequer que seja concreta. Por isso, meus filhos, meus amantes, não posso calar diante dessa figura heroica que fazem de mim e não há outra coisa a dizer em minha defesa a não ser que eu ainda choro e não me aguento nos cueiros.

Régis Santos
25 de junho de 2011

Régis Santos é formado em Letras pela UFPE e Mestre em Educação pela mesma instituição. Tem 31 anos e é um escritor sazonal, avesso às festas, festivais e às demais superficialidades do campo literário.

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