De nosso amor e loucura...

Alguns de nós, eu inclusive, já vimos acalentando a ideia de criar este blog. Fazemos, de certo, parte de um grupo que não se entende como apenas professor, pessoas que criam contos, crônicas, novelas e têm receios de expor suas produções. Somos loucos... loucos pelo ócio mais trabalhoso que existe: escrever Utilizamos as palavras de Clarice Lispector para definir nossa loucura... "Escrevemos porque somos desesperados e estamos cansados, não suportamos mais a rotina de nos ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, nós nos morreríamos simbolicamente todos os dias."

segunda-feira, 19 de março de 2012

Carta a Júlio


Carta a Júlio
“Assim como as abelhas juntam o mel, reunimos o que há de mais doce em tudo e o construímos. É com o que há de menor, com o que há de insignificante (caso resulte do amor) que começamos (...)”
Rainer Maria Rilke

Querido,
Revirei algumas caixas e pensamentos hoje, e voltei no tempo. Em meio a tantas cartas, brincos e músicas, lembrei da bagunça de sua casa... era uma casa grande, bem decorada e tinha você. Tinha também aquele cobertor de que gostei. Ainda estou procurando igual para comprar.
Corri os olhos por um bilhete seu que trazia apenas o trecho de uma música... vi também o colar que você pôs em meu pescoço sem que eu percebesse. Eu adorava opinar sobre as músicas que você me apresentava. Lembra daquela que defini como: “uma música dentro de outra música”? E eu estava certa, pois você concordou com a interpretação. Acho que estava certa também quando derramei aquelas palavras duras no carro... você concordou com os olhos e o silêncio.
Posso voltar mais no tempo e lembrar de sua cicatriz. Fiquei preocupada, meu bem. Os pensamentos estão soltos e não quero que você se perca...
Lembro de pequenas coisas... as que são mais importantes. Seus olhos falantes, as mãos inseguras e os pensamentos concentrados. Minha lembrança recente mais sublime é a de um passeio à tarde entre as estantes de uma livraria e a câmera lenta de você e dos livros. Os mesmos olhos falantes observando os movimentos do vestido vermelho solto e os meus olhos fitando os seus com ternura. Piegas, meu bem? Talvez... mas nada que nos cause enjôo.
Deixei essas lembranças espalhadas na caixa e guardei outras em baú com cadeado forte, do qual esqueci a combinação. O baú e tudo mais que já não me serve jogarei na fogueira que Luíza tenta acender no quintal. Existe algo que você deseje jogar lá? Posso pedir que espere para acender outro dia. Não deixe que eu seja mal-educada... dê-me boas notícias para que eu guarde em minha caixa. Aguardo suas palavras.
“Isso é tudo que sou capaz de lhe dizer hoje...”

Sua,
           Camille



Letícia Menezes
13 de março de 2012

2 comentários:

  1. Cada vez mais voce se supera. Parabéns

    ResponderExcluir
  2. amiga lethy , sabe o que me lembrou?? eu tinha uma amiga chamada Lauriene , ela evangelica e eu do mundo trocavamos cartas, ela Tocantinense e eu Pernambucano.Um dia post uma dessas. Adorei! Qeria saber a respota de Júlio..

    ResponderExcluir