De nosso amor e loucura...

Alguns de nós, eu inclusive, já vimos acalentando a ideia de criar este blog. Fazemos, de certo, parte de um grupo que não se entende como apenas professor, pessoas que criam contos, crônicas, novelas e têm receios de expor suas produções. Somos loucos... loucos pelo ócio mais trabalhoso que existe: escrever Utilizamos as palavras de Clarice Lispector para definir nossa loucura... "Escrevemos porque somos desesperados e estamos cansados, não suportamos mais a rotina de nos ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, nós nos morreríamos simbolicamente todos os dias."

sábado, 10 de março de 2012

A janela



Tomei a decisão de fingir que todas as coisas que até então haviam entrado na minha mente não eram mais verdadeiras do que as ilusões dos meus sonhos.”
René Descartes

Da janela do meu quarto vejo o que chamo de “meu bairro”. Aqui a todos conheço. Todos os dias Seu Manuel abre a padaria cantando um fado, existe algo mais clichê? Ana Lúcia corre para não perder o ônibus. Um cão sempre ladra ao menor ruído da velha bicicleta de Pedro.
Da janela do meu quarto vejo aquele a quem amo. Faço todos os dias meu melhor penteado, mas ele nunca olha para cima. Para falar a verdade, não me lembro de tê-lo visto olhando em alguma outra direção atualmente. Ele olha sempre para baixo, talvez goste de seus sapatos... Sim, ele deve gostar muito daqueles sapatos.
Passei por baixo de seu nariz certo dia... ele coçou os olhos. Escrevi algumas frases em papel amarelado e atirei pela janela na intenção de acertá-lo, mas não levei em consideração duas variantes importantes: o vento e o tempo. Ah, se ele pudesse ver o que vejo! Veria um futuro ensolarado. O passado doce que faz meu presente amargo guarda as saudades de algo que ainda nem vivi... Sinto saudade... Falta não, porque alguém me disse que “sentir saudade é bom, o ruim é sentir falta”.
Quisera que por um dia, um único dia, ele esquecesse seus sapatos e olhasse novamente para cima! Quisera que coragem tomasse conta de seu peito para que fizesse tudo aquilo que lhe desse vontade! Quisera eu reencontrar aquele que olhava para o céu, porque aquela era a imperfeição mais sublime que já vira.
Da janela do meu quarto eu vejo as nuvens, os carros, as casas e as máquinas... Máquinas modernas... elegantes... usam terno, vestido e salto alto... Dessa mesma janela vejo a máquina que amo.
Da janela do meu pensamento acabo de perceber que não tenho quarto, nem janela e nem a máquina.
Letícia Menezes
leticiatamyres@yahoo.com.br
08  de março de 2012

4 comentários:

  1. Emocionante, Fascinante, amável, linda, sublime, dentre outros, são os adjetivos que posso empregar a sua "sopa de letrinhas" e também você. Parabéns Lê.

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  2. Talvez ele goste mesmo dos sapatos, ou ele não quer sentir falta deles...
    P.s: sentir saudades é bom ^^

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